segunda-feira, 25 de junho de 2012

Corda Bamba


A jovem, mesmo dopada com todos os remédios, acordava todas as madrugadas nos mesmos horários. Olhava para os lados ainda meio tonta tentando entender onde estava, e lá via seu quarto, isso não era incomum, só lhe dava aquele aperto no peito, meio nostálgico, meio masoquista, meio sonhador. É aqueles sentimentos eram uma mistura de tudo que fosse possível ser sentido.
Ás vezes ao se lembrar sentia uma saudade infinita, mas ao mesmo tempo um ódio mortal de si mesma e dos envolvidos, como poderia ter sido tão tola em acreditar em tudo. Onde estava a verdade? Onde estava a coragem? Onde estava a lealdade? Onde se perdeu as palavras?
É, nesses momentos ela imaginava que tudo não passou de uma ilusão, a dúvida era até onde ela se iludiu sozinha e até onde lhe pregaram a peça.
Um dia lembrou de como tudo começou e de como ouvia as pessoas dizendo que ela tinha que tomar cuidado para não ferir ninguém, mas até onde sabe ninguém se preocupou em lhe ferir. Ali estava um dos vários erros, preocupar-se mais com as cicatrizes e feridas alheias do que com as próprias. Talvez o que ela acreditava estava errado, pra sobreviver nesse mundo de selva era necessário sim ser um leão, egoísta e egocêntrico que se preocupa mais com os próprios holofotes do que com o resto dos meros animais.
Sentada em sua cama olhando para o lado, puxou seu velho coelho para mais perto, deitou, fechou os olhos. Nesse momento as lágrimas ficaram entaladas na garganta, mas dali não sairiam. Ela já não choraria por isso, mesmo que escondida. Tudo tinha um limite, e ela já havia passado do seu, os remédios e as visitas aos médicos indicavam isso.
Amanhã seria um novo dia, e lá a jovem Isabelle estaria pronta pra colocar um sorriso barato no rosto, pra mostrar o mundo o seu mau humor irônico. Faria piadas idiotas ou ofensivas só pra esconder o que só aparecia quando ela acordava às 1h, às 2h30, às 3h e entre as 5h e 6h da manhã e voltasse a olhar aquela cama enorme e o quarto vazio e ali de novo lembraria, sentiria, entalaria o choro e voltaria a conversar com Deus pedindo por um pouco de paz.

sábado, 2 de junho de 2012

Estrela Cadente


Tarde da noite ela ainda estava na rua, andando sem destino. Sentiu o vento quente bater em sua pele, deitou na grama e ficou. Sabia que iria chover, talvez não hoje, provavelmente amanhã. "-Só volto pra casa o dia que chover. Preciso sentir essas gotinhas caírem pelo meu corpo!". Esta talvez fosse a única maneira que ela conseguiria sentir algo.
Todos os dias desde a hora de levantar até o deitar sentia como se estivesse em um modo mecânico, estava ligada no automático. Não havia sentimentos, os sorrisos saiam sem que ela percebesse que eles estavam saindo. Ela precisava sentir, era isso... E esperava que com a chuva sentisse algo, pelo menos que fosse a sensação de ainda estar viva.
Enquanto estava deitada reparou na quantidade de estralas no céu, então fechou os olhos e começou a meditar, pedindo por energias mais puras, por um pouco de paz.
A jovem só desejava voltar naquele tempo onde os problemas mais complicados eram resolvidos de maneiras simples. Onde a maior duvida que tinha era qual roupa colocaria para pegar um cinema.
Sabia que a vida iria se complicando conforme ela amadurecia, e isso que a fazia crescer. Mas nos últimos tempos suas escolhas, talvez erradas, lhe trouxeram até ali.
Abriu os olhos e viu uma estrela cadente caindo, os fechou novamente e fez um pequeno pedido.
Estava mais calma e leve, decidiu voltar para casa antes do dia amanhecer.
No caminho foi surpreendida por pequenas gotas de chuva, um sorriso sincero abriu-se naquele rosto angelical. E ali ficou parada dançando na chuva. Naquele momento teve certeza que as coisas mudariam, e seria para melhor.