sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Vento


Como sempre parecia que minha vida começava a noite. Já eram quase três da manhã quando resolvi ir para o fundo de casa. Abri a porta com o maior cuidado para que ninguém ouvisse. O corredor estava escuro, detive meu medo e desci até perto da piscina. Sentei no degrau e fiquei parada sentindo o vento frio bater em minha pele. Tremi, mas nem por isso desisti de ficar ali. Fazia muitos anos que não ficava ali no quintal. Muitas coisas já haviam mudado, mas a criança dentro de mim pedia por isso.

Ouvia os barulhos dos carros e os cachorros dos vizinhos a latir, me assustei quando pensei ter visto um vulto. Nessa noite não estava querendo pensar em mais nada, estava muito confusa com tudo que vinha acontecido nos últimos dias. Aqueles olhos de felino não saiam da minha mente, assim como a lembrança daquela presença também não. Eu não podia negar que estava assustada com tudo isso. Mas sentia uma necessidade incomum de saber o que tudo isso significava.

Olhei para o céu, vi varias estrelas. Há muito tempo eu não reparava mais no céu daqui. Era tão lindo que esquecia tudo. Foi quando senti novamente a presença ao meu lado. Mas dessa vez ela não queria me fazer companhia apenas e nem me acalmar. Parecia que tinha algo a me dizer. Então olhei para o lado na esperança de ver alguém ali, mas nada vi. Mesmo assim joguei a pergunta ao vento. Abri minha boca e perguntei ao nada: - O que quer comigo? – Não obtive nenhuma resposta. O silêncio era letal e o vento ficava mais forte.

Parei então para observar as sombras que eram formadas pela luz do poste da rua, que pouco iluminava ali. Era só a sombra de uma menina, uma menina não. Eu. Pela minha reação dava pra ver que esperava ver outra coisa além dessa imagem, mas o que iria refletir se nada tinha ali além de mim. Estava arrepiada de frio minhas costas já doíam por causa do jeito que estava sentada. Não me importei.

De repente ouvi algo de diferente no ar, era como se alguém estivesse falando algo. Quem poderia ser se não havia mais ninguém ali. Me concentrei pra tentar ouvir. –Você está bem?- Foi exatamente o que escutei. Sorri e respondi: - Claro que não. - Então o vento soprou mais uma vez. O arrepio cresceu e então ouvi outra pergunta. – Por que não estas bem?- Não sabia se devia responder ou se me calava, mas como estava tomada pela coragem respondi. –Estou confusa, sinto que alguma coisa está pra acontecer. Ou acontecendo, parece que alguém está sempre comigo, mas eu não sei quem. E também não sei o porquê. Estou assustada, mas quero saber, preciso de respostas. -

Passou alguns minutos... Mas o silêncio voltou a ser mortal. Estava de cabeça baixa e frustrada por não ter conseguido nenhuma resposta. Foi quando escutei alguém tossir. Olhei pra porta do corredor, mas não havia ninguém ali. Mas tinha certeza que era dali que veio o barulho. Fiquei quieta na esperança de ouvir, ver, sentir qualquer coisa que fosse e nada. Peguei meu celular pra ver a hora, já haviam passado quase uma hora.

Estava mais tranquila do que quando sentei ali. Talvez eu precisasse de um cantinho que sentisse que era só meu. E aquele momento me fez bem. Não sei por que, mas fez. Era a primeira vez em dias que sentia paz. Levantei de vagar e fui caminhando pelo corredor. Entrei pela porta sem fazer nenhum barulho. Subi correndo as escadas, deitei em minha cama. Esperava dormir melhor essa noite...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Pequenos Gestos


Sozinha no ônibus, o que não é comum quando estou indo trabalhar, liguei o player do Iphone e deixei tocar. Vim observando as ruas, as pessoas, o céu e a paisagem. Senti uma tranquilidade imensa. Comecei a prestar atenção nas letras das músicas e foi enquanto tocava a música Airplanes do B.O.B com a Hayley Williams. Imaginei o que pediria se soubesse que teria um pedido e que ele seria realizado. Foi automático, pensei: “Chega de ser egoísta... Sou tão abençoada por ter a vida que tenho então porque pedir algo por mim, que já tenho tanto? Pediria que no mundo não houvesse mais pobreza, que cada ser humano tivesse uma família, um lar, comida na mesa e uma situação estável. Eu queria de verdade poder ajudar a facilitar a vida daqueles que têm uma vida tão dura.

Pode parecer meio cliché isso tudo, porém eu realmente desejava isso e ainda desejo. Recomecei a pensar de que maneira eu poderia contribuir para um mundo melhor. Tenho consciência de que se cada um fizer uma pequena parte as coisas podem mudar de verdade.

Fiquei ainda mais inspirada quando descobri dois blogs. Um é o “365 nuncas” onde Steffania e Elisa tiveram a brilhante ideia de contar como é fazer algo que nunca tinha feito antes todos os dias, vale de tudo, sair distribuindo elogios pela rua, pegar carona num guarda chuva, ligar na TIM e pedir para que o atendente lhe conte uma história ou até mesmo nadar pelada em Copacabana. E o outro é o “grite poesias” que é uma iniciativa de distribuir poesias por ai, já que segundo as moderadoras do tumblr “o poeta é uma necessidade orgânica da sociedade.”

“Tá, mas onde a sua vontade de ajudar o mundo esses dois blogs se juntam?” No simples fato de que as iniciativas dos dois me fizeram querer ter uma também. Não vou fazer um blog sobre minhas experiências, mas vou tentar fazer algo diferente todos os dias sim, por menor que seja. Vou distribuir elogios e conversar com pessoas que nunca vi antes. O ser humano tem necessidade de ter um pouco de atenção e eu posso doar um pouco do meu tempo para um desconhecido. Sei que esses pequenos gestos fazem a sua parcela de diferença. E eu sempre fui admiradora de pequenos gestos.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Dando um tempo



Dessa vez quem precisa de um tempo sou eu. Sim um tempo, tempo do mundo, das pessoas, da tecnologia da vida em si. Preciso ficar a sós com a grama que faz cócegas em meus pés, a sós com a chuva que se mistura as gostas que caem dos meus olhos. Um tempo sozinha com o vento que me dá a sensação de liberdade, com as estrelas no céu que me inspiram. Quero ficar apenas com a noite sombria, com a lua que reflete em meu olhar. Um tempo apenas com o amanhecer do dia, porque eu quis ver o dia nascer e não porque não conseguia dormir. A sós quem sabe com o sono que me leva a lugares que em vida nunca poderei alcançar.

É eu realmente preciso de um tempo comigo mesma, nesses momentos de pura solidão poder me encontrar e me perder. Brincar apenas de ser eu, sem guardar algo ou sem falar de mais. Quem sabe falar de menos, sentir de menos e me preocupar de menos também. Sem nenhum medo, nenhuma loucura ou máscara. Um momento cheio de defeitos, de imperfeição de desastres e risos.

Tudo o que eu quero e preciso é de um tempo só meu, apenas isso pra me fazer relaxar e esquecer esse cansaço que me segue, domina e me deixa tão menos eu.