terça-feira, 14 de agosto de 2012

As Cartas




As quatro amigas estavam em um quarto à luz de velas brincando com cartas de tarô. Uma delas fazia aquela cara de mistério e lia para as outras o que as imagens de cada carta queria dizer. Era uma brincadeira de jovens, nenhuma delas levava tudo aqui a sério. O vento bateu e as luzes quase se apagaram. Um arrepio subiu pela espinha de Rose, era a vez de ela saber o que as cartas reservavam para ela. Mari falou algo sobre a carta da espada ser um corte, falou sobre um alguém especial, sobre um término, falou que a outra pessoa ficaria chateada, mas não falou nada sobre o que ela sentiria. Também comentou sobre muitas brigas e sobre a relação nunca ser aceita por seus pais. Até então nada que ela não soubesse, só não sabia sobre esse fim, não acreditava e nada que fosse eterno, mas só não via esse fim por enquanto.

O tempo passou e aos poucos tudo o que Mari falou que aconteceria naquela noite foi acontecendo, briga por briga. Tesão por tesão, idas e vindas. Choros e sorrisos, um pouco de distanciamento. O que sentia que levaria ao fim, mas que fazia o que Rose sentia crescer ainda mais. Ela não aceitava não como resposta e lutava por aquele sentimento que estava em seu peito. Nunca fora de desejar clichês e nem sonhar com um pra sempre, mas pela primeira vez suas expectativas eram cheias desses clichês românticos com o mais belo final. Chegou até pensar em casamento, filhos, casa e um futuro. Era até engraçado alguém ouvir ela que era tão anti essas coisas animada com isso.

Porém quando tudo parecia que iria se acertar, veio o corte. Seu coração foi dilacerado em tantos pedaços que não conseguia nem contar. Chorou por todas as noites seguintes, por todos os dias, no banho, vendo televisão, no computador e até mesmo enquanto lia. Os dias passavam e a dor crescia, só que ela se acostumava em sentir isso.

Com o passar do tempo ela mal sentia a dor, apenas sentia um vazio, o qual nada conseguia preencher. Saia com outros amigos, alguns novos, alguns velhos. Divertia-se, sorria, brincava e dançava, mas não pensava em amar novamente. Beijou bocas e trocou carinhos, estava seguindo sua vida, mesmo com aquele vazio. Sua mente escondia o que seu coração sentia e ela não contava essa dor para ninguém, os outros acreditavam que ela nem sentia mais.

Até que um dia viu aquele sorriso estampado naquele rosto, vivendo a sua vida como se nem se lembrasse do que tinha acontecido. Parecia nem lembrar-se do seu nome, das promessas que haviam sido feitas. Rose tentou por um bom tempo esconder essa nova mentira de si mesma, mas em um momento tudo veio a tona. Suas lágrimas caiam e ela só queria um colo amigo para desabar.

Então fechou os olhos, lembrou-se daquela noite de verão, das velas acesas e de suas outras três amigas em uma roda olhando as cartas. Mari dizia sobre o corte e sobre como o relacionamento não teria futuro, a outra pessoa ficaria triste porque gostava, mas era apenas isso. Mas ela não tinha falado nada de como Rose se sentiria e tudo se resumia apenas em um vazio.

Nenhum comentário: