domingo, 27 de janeiro de 2013

Saudades da fulga


Ariel não era o tipo de menina ligada ao mundo que chamam de futilidades, não sabia qual era a marca do momento, os sapatos mais belos nem quais calças combinavam com tal blusa. Nunca foi de ficar ligada em novelas e nem na TV aberta. Se fechava num mundo próprio, onde quem criava sua "moda" era ela mesmo, vestindo o que achasse mais a sua cara, era apaixonada por botas, sim gostava de saltos altos, mas os trocava bom um all star. Preferia filmes, seriados, cartoons e animes do que aqueles programas sangrentos e cheios de tragédia. Acreditava em Deus da maneira dela, até orava a noite, mas pedia pela luz divina em seu caminho, para tomar as decisões certas.
A moça era mais amiga de professores do que dos colegas de sala de aula, apesar de sempre estar sorridente e não dispensar uma dança, muitas vezes queria chorar e se esconder no banheiro. Era por esses motivos que sentia-se mais a vontade com com um papel e caneta ou então na frente do computador colocando o que sentia ali e criando o seu mundinho.
Só que já haviam se passado quase seis anos daquele tempo, ela tinha amadurecido e compreendia que não poderia ficar ligada apenas ali. Então foi aprendendo um pouco sobre moda, o que fez com que descobrisse um pouco do seu estilo pessoal. Percebeu que era uma garota que gostava mais de música pop, mas nos seus momentos de escrita preferia melodias mais calmas com letras profundas. Agora mal falava com os professores e era até meio que "popular" entre sua turma, afinal fazia amizades facilmente no bar. Ela parou de desenhar e de pintar, apesar de sentir saudades, mas raramente dizia ainda. A única coisa que sentia que continuava da mesma forma era sua paixão pela escrita. Podia até ficar um tempo sem escrever, mas não muito tempo, se não enlouquecia. Era por isso que quando se comprometia com algo que envolvia a sua escrita e criatividade era tão severa e comprometida, não esperava nada menos dos outros. Afinal, se mesmo com outras coisas para se dedicar ela tirava um tempo para fazer suas tarefas, porque os outros não poderiam tirar também?! Isso mostrava o quanto era responsável. Mesmo perante aos olhos dos outros parecer ser mandona, ela só queria que retribuíssem pelo esforço que ela doava.
Ouviu que era egocêntrica  que queria ser superior, que sua mente do mundo era fechada, mesquinha, e achou mesmo que levou uma pela rasteira. Enquanto ela pensava no que aquela que a acusava de mil e um pecados não conseguia perceber que ao se tratar de comprometimento, era nulo, pulou fora, mesmo que olhando de longe, quando a coisa ficava feia, sobrava para Ariel resolver.
Mesmo abalada e triste com tal situação isso não faria ela mudar quem era e continuaria a ser comprometida, responsável e exigente consigo mesmo. Dane-se a visão alheia, porque mesmo quando se trata de responsabilidade com algo que não lhe dê "lucro" Ariel sabia muito bem o quanto isso era importante para treinar seu desenvolvimento na escrita e também lhe taria algum tipo de experiência, que no futuro poderia lhe ajudar no campo profissional.
A questão agora não era essa, mas sim o fator dela sentir falta do seu velho caderninho de anotações para colocar suas ideias, desabafar e esquecer mais uma vez daquele mundo tão hipócrita e cheio de sangue. É, naquelas últimas semanas Ariel queria mesmo esquecer de tudo e voltar para aquela época em que podia viver apenas do seu mundinho particular.

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